Fylgja: O Retorno da Mulher Mágicka
- angelmillar
- 23 de fev.
- 5 min de leitura
Atualizado: 24 de fev.
Por Angel Millar
Tradução por Lua Valentia
Em uma série de ilustrações rosacruzes-alquímicas de Hejonagogerus Nugir no Freymäurerische Versammlungsreden der Gold- und Rosenkreutzer des alten Systems (publicado em Amsterdã, 1779), vemos Mercúrio revelando uma bela figura feminina que personifica a Natureza. Na ilustração, a cabeça de Mercúrio está voltada para um alquimista que está de pé dentro de um círculo mágicko, ao qual ele diz: “Ich zeig' sie dir, nun folge ihr!” ("Eu a mostro para você, agora siga-a!").

A palavra alemã "folge" e a palavra inglesa "follow" (do inglês arcaico: folgian, fylgian ou fylgan) derivam da palavra proto-germânica *fulgojanan e estão relacionadas à palavra nórdica antiga fylgja ("seguir").
Fylgja era o nome de um tipo de figura feminina sobrenatural (às vezes também chamada de fyljakona (kona, "mulher")) que refletia o caráter de uma pessoa e estava associada à sua sorte (Nórdico Antigo: hamingja). No fim da vida de um homem, acreditava-se que a fylgja apareceria para levá-lo do mundo dos vivos.
Dessa forma, poderíamos ser perdoados por pensar que a figura feminina mítica que o alquimista da era moderna foi instruído a seguir (folge) representava o ressurgimento intuitivo de uma fylgja sobrenatural, embora vestida com o simbolismo da alquimia (que, apesar de exteriormente cristã, incorporou mitologia pagã e divindades da Grécia Antiga).
O mesmo poderia ser dito sobre a teoria de Carl Jung a respeito da anima (a representação feminina da alma de um homem) e do animus (a representação masculina da alma de uma mulher), sendo a primeira, talvez, uma espécie de lembrança espontânea — ainda que muito difusa — da fylgja.
No entanto, com uma aplicação excessivamente ampla, a teoria de Jung carece da clareza de nossos ancestrais nesse aspecto. Assim, o psicanalista é capaz de afirmar que tudo, desde um personagem de um conto de fadas até uma amada, uma mulher que aparece em um sonho, um grupo de mulheres ou qualquer atributo "feminino" do caráter ou da persona de um homem, é, na verdade, a anima. Embora a teoria da anima possa ter alguma aplicação mística ou ocultista quando reduzida aos seus elementos essenciais, é essa aplicação excessivamente ampla (ou projeção) que torna a anima junguiana mais teórica ou psicanalítica do que mágicka.
Com relação à cultura pré-moderna, encontramos a mulher mágicka em outros lugares, é claro. No Zoroastrismo, acreditava-se que uma daena (uma personificação feminina do caráter de uma pessoa) encontraria o falecido na ponte de Chinvat, que ocupava o espaço entre o mundo dos vivos e o pós-vida. Se a pessoa tivesse sido malévola em vida, a daena apareceria feia; se tivesse sido bondosa, ela apareceria bela e guiaria o falecido através da ponte para a vida após a morte.
Na Saga de Gisli, da Islândia medieval, Gisli é frequentemente visitado por duas mulheres em sonhos. Uma delas é boa, e a outra, má. A boa "mulher dos sonhos" (Nórdico Antigo: draumkona) é a fylgjakona de Gisli. Em um de seus sonhos, ela lhe mostra uma casa impressionante e diz que ele viverá lá com ela após sua morte, (insinuando uma relação sexual) e afirmando que ele terá domínio sobre ela.
Nas ilustrações de Nugir para Freymäurerische Versammlungsreden der Gold- und Rosenkreutzer des alten Systems, também vemos o alquimista seguindo uma mulher misteriosa ou sobrenatural. Em uma dessas imagens (ilustração número seis), ela usa uma coroa e tem asas na cabeça. Lembrando a daena, talvez, ela guia o alquimista por um caminho repleto de pequenos dragões e outras criaturas demoníacas e grotescas até uma rotunda, no centro da qual há uma vela emitindo luz. Da mesma forma, na obra Atalanta Fugiens (1617), de Michael Maier, vemos o alquimista seguindo uma mulher que personifica a Natureza.

Apesar do cinismo da modernidade, a mulher mágicka retorna. Mais sombria e envolta em sombras, ela ressurge nas pinturas de Franz von Stuck, como em O Pecado (onde uma mulher nua está entrelaçada por uma serpente), na encantadora feiticeira de O Círculo Mágicko (1886), de John William Waterhouse, e na bruxa em Conan, o Bárbaro, entre outros exemplos. No âmbito religioso, vemos seu retorno no neopaganismo voltado para deusas (frequentemente historicamente impreciso), especialmente nos primeiros rituais performáticos de Janet Farrar para a televisão, que podem ser interpretados como uma espécie de encantamento sobre o público.
Mas, acima de tudo, e mais importante, a mulher mágicka retorna em nossos sonhos (e em nosso sonho coletivo), dos quais a arte e os rituais mencionados não passam de reflexos.
Na minha própria experiência, por muito tempo, uma mulher de cabelos longos e negros apareceu em meus sonhos. Com o tempo, identifiquei-a como minha fylgja. Embora reconhecível como a mesma mulher (ou espírito), ela não fazia mais do que ficar ali, em meio à cena do sonho. Sua presença parecia ter o único propósito de me alertar para o fato de que eu estava sonhando e me ajudar a lembrar do sonho mais tarde, como se houvesse nele um significado especial.
Por muito tempo antes disso, eu tive um pesadelo recorrente. Certa noite, ou talvez ao amanhecer, enquanto dormia, percebi que estava prestes a cair novamente nele. Senti uma sensação de terror diante do que parecia inevitável. Então, a fylgja apareceu, envolvendo-se ao meu redor, nua. Seria um erro interpretar esse sonho como sexual. Não era. Embora a nudez da fylgja pudesse ter sido uma tentativa de me distrair do pesadelo iminente, o ato parecia inteiramente protetor. O pesadelo não aconteceu, e desde então nunca mais o experimentei.
Não devemos cometer o erro junguiano de ver a fylgja em todos os lugares. No entanto, devemos reconhecer que, em raras ocasiões, podemos encontrar uma mulher mágicka de carne e osso. Ela pode ser um reflexo físico de nossa fylgja, mas, mais importante do que sua aparência, é sua capacidade—ou intuição—de sonhar algo essencial sobre nós. Embora o termo deva ser usado de forma muito diferente do Nórdico Antigo, nesse sentido—e no sentido de ser o nosso ideal—, essa mulher mágicka é nossa draumkona.
Sem dúvida, a mulher mágicka muitas vezes será nossa parceira romântica ou sexual. Mas o que determina essa conexão não é a proximidade, e sim a mente e o espírito. Assim, como se viesse de outro reino, ou de meio mundo de distância, ela pode mergulhar em nossas profundezas.

Angel Millar é o autor de The Path of the Warrior-Mystic: Being a Man in an Age of Chaos e The Three Stages of Initiatic Spirituality: Craftsman, Warrior, Magician (ambos publicados pela Inner Traditions). Ele ministra palestras regularmente para grupos privados e em conferências públicas sobre esoterismo, simbolismo e sociedades secretas.
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