Muitos dos praticantes de Magia, em seu início, são estimulados a criar uma Persona Mágica. A persona mágica seria aquela pessoa que você vira para deixar as preocupações mundanas da vida cotidiana de lado e passa a se concentrar especificamente no exercício/ feitiço/ ritual que você tem que fazer. Para isso, o magista é incentivado a adquirir roupas ritualísticas, criar espaços sagrados fisicamente, e até mesmo (principalmente, na verdade) estimulado a adotar um Nome Mágico, um nome secreto que será conhecido entre ele e as divindades com as quais trabalha. Esse nome pode ser escolhido ou revelado, mas geralmente é ele quem fecha a assinatura mágica que acaba por completar a Persona Mágica do praticante. Com o tempo e a prática diária, muitas vezes a persona mágica acaba por se fundir com sua própria personalidade, afinal, o magista experiente sabe que a Magia está e pode ser praticada em todo lugar, e que os mecanismos que ele usava para ativar sua persona mágica nada mais eram que muletas para que ele pudesse acessar seu Eu Interior, o que ele acaba aprendendo com a experiencia a fazer sem usar desses artifícios. Muitos acabam por tornar esses nomes públicos, outros mantem para si e raramente voltam a utilizar desse nome.
Porém, algumas pessoas esquecem que Magia é muito mais que Feitiços e Rituais. Que é uma prática diária, com exercícios de visualização, meditações, energizações e aterramentos diários. Como um atleta exercita seu corpo para ser uma máquina afiada para seu esporte, o magista exercita sua mente e espírito diariamente para fortalecer seu Eu, sua personalidade, para que esta não vacile quando for-lhe exigida a concentração, energia e Vontade para performar sua Grande Arte. Muitos, passados os estágios iniciais, onde seu Mestre ou até mesmo seu afã de tornar-se um bom magista exigem que ele mantenha seus exercícios mentais e espirituais, passam a deixar esse em segundo plano. Como aquela pessoa que entrou na academia para emagrecer e, ao atingir o peso desejado, acabou por relegar seus exercícios e dietas ao segundo plano. Isso quando ainda o fazem. Passam a concentra-se unicamente em realizar seus feitiços e rituais, e sempre vestindo sua Persona Mágica para ajudar nesse intento. Nesse caso, muitos percebem que suas personas mágicas vão enfraquecendo, por falta de estímulo, e acabam entrando na chamada Noite Negra da Alma, onde perdem a Fé e passam a duvidar de si mesmos.
Mas existe o outro tipo de magista que vacila em seus exercícios, mas entra de cabeça nas realizações de feitiços e rituais para todo e qualquer fim imaginável. Seja em causa própria, seja em favor dos amigos, seja em causas quixotescas que creem irá tornar o mundo melhor.
Ficam totalmente fascinados pela vida mágica e suas possibilidades que acabam por, invés de assimilar sua Persona Mágica, serem assimilados por estas. Passam a querer ser chamados única e exclusivamente pelo seu Nome Mágico. Seus assuntos cotidianos giram totalmente em torno de misticismo, esoterismo e outros ismos mágicos. Aos poucos acabam por afastar amigos e familiares, e passam a acreditar em mitologias como fatos reais e questionar toda forma de ideia que não se encaixe em seu credo. Passa a conversar diariamente com espíritos e entidades das mais diversas, sem perceber que podem ser apenas delírios de sua mente tentando compensar sua solidão ou, pior, obsessores se alimentando de seu estado transtornado. Essas pessoas tornaram-se prisioneiros de sua persona. E sequer percebem isso. Geralmente é esse tipo de praticante que passa a exagerar em suas oferendas ("mas será que eu posso energizar um dos 40 servidores com sangue para potencializar seu efeito?"), ou são atormentados por entidades astrais que os punem por pecados imaginários ou pedem sacrifícios de coisas que sequer costuma ser ligado à sua característica ("Fiz um ritual para Kwan Yin e agora ela está me pedindo para sacrificar meu gato"). A Magia mais parece um vício para eles que uma ferramenta para autorrealização.
Irmãos, para evitar essa armadilha é só lembrar que tudo na vida é equilíbrio. É usar a árvore como exemplo, que quanto mais alto quer alcançar os céus, mais firme e profundamente enterra suas raízes no solo. É lembrar que a Persona Mágica nada mais é que um instrumento. Um objeto que, uma vez que não tenha mais utilidade, deve ser deixado de lado e não se tornar essencial à sua prática. É lembrar que Mago Maedre pode ser um nome maravilhoso para usar em rituais ou assinar em textos de internet e futuras publicações literárias, mas é Maurício de Oliveira que paga as contas, compra as velas, livros e incensos e tem uma família linda para cuidar e brincar.
A vida mágica é maravilhosa , irmãos. Mas cabe à cada um de vocês perceber que a magia não se resume à círculos mágicos e rituais complexos, e sim que A VIDA É MÁGICA A TODO MOMENTO E LUGAR!
Abraços fraternos
amizades e laços familiares potencializados e não renegados pela magia. Gratidão pelo texto.
Precisava ler isso. Gratidão 🙏🏻