Kant buscou entender a razão da razão, em sua resposta sobre “o que seria o esclarecimento” ou em outras traduções “o que seria o iluminismo”, expressou bem a ideia da maioridade do homem. Em outras palavras a iluminação ou a libertação do homem do seu estado “infantil” seria pensar por si próprio sem o direcionamento de outro, e o seu obstáculo seria a preguiça e a covardia do homem. Menoridade essa que é auto imposta, considerando que a racionalidade é inerente a nós. O ser humano é intrinsecamente preguiçoso e procura meios para fugir do trabalho de pensar por si próprio, é mais fácil seguir um líder, uma ideia, uma tradição, sem muito questionamento.
Por outro lado essa menoridade também pode ser dada pela ausência de conhecimento, de esclarecimento ou de crítica. Não é atoa que governos autoritários logo retiram a filosofia das escolas, pois é ela que trás a iluminação crítica ao ser humano. Portanto sem a filosofia se torna fácil manipular toda uma massa impensante. Kant afirma: “é tão confortável ser menor”, é fácil e confortável para o homem não precisar pensar por si próprio, já que dessa forma, caso erre, terá alguém para culpar. Talvez seja esse o problema, as pessoas sentem medo de errar, dessa forma não se arriscam, mas sem erro não aprendem a fazer o certo, o que cria um processo de servidão voluntária ao outro que pensa por mim. Damos a nossa autonomia a outro, um exemplo disso são livros de autoajuda, não somos capazes nos mesmos de pensar por nós o que é melhor para nós?
Como por exemplo, na esfera religiosa, onde milhões de pessoas se curvam a uma interpretação do outro e a aceitam como verdade absoluta. Onde aceitam dogmas, sem questionar devidamente, e renegam até teorias evolutivas fundadas em lógica para preferir crer que fomos feitos do barro. É lamentável que o homem se curve e prive-se daquilo que o torna único, o pensar e a crítica. Os tutores desensinam claramente os seus pupilos a não andarem com as próprias pernas, afirmando que há terríveis perigos. E por medo não ousam atravessar a ponte entra a menoridade e a maioridade, um bom exemplo disso é a ideia de pecado. Onde se um pouco de lógica fosse levada a igreja, seria um ambiente muito mais saudável e não usada como instrumento de manipulação, como foi constantemente nos últimos séculos. Igreja que por si é contraditória, já que no significado da palavra é descrita como local de debate teológico, o que não acontece.
Podemos casar a ideia de Kant com a de Nietzsche, quando Kant cita em relação que a menoridade auto imposta também pode ser cultural, como a moral religiosa que impregna nossa sociedade. É possível criar uma ponte no super-homem de Nietzsche, do qual superou a moral e criou a sua própria, e mesmo com a luz do conhecimento, entendendo a verdade ainda vê propósito em existir, no amor e no conhecimento. Ou até mesmo fazer um link com o discurso da servidão voluntaria, no qual é questionado como milhares de homens se curvam a um. Esses homens que se submetem a isso provavelmente estão acostumados a essa forma de autoridade, e por falta de conhecimento de outra não se revoltam perante essa atrocidade. Seria esse outro exemplo de uma menoridade auto imposta ou cultural.
O individuo se torna incapaz de se movimentar contra a menoridade, incapacidade que é auto imposta pelo medo. Pode ser também interessante para um tutor que um gado fuja, e que ele capture, usando-o como exemplo para que os outros não façam o mesmo. Como por exemplo, na igreja, ondem enchem as fracas mente de medo de um lugar imaginário que denominam de inferno. Porém, se ninguém voltou de lá para contar se realmente é assim ou se realmente existe, como podes temer? É necessário que o se humano ouse, que se machuque, para que aprenda a andar por si próprios. Nenhum de nos nascemos andando, nos caímos muito até aprender.
A maturidade do homem é o estado máximo da crítica e da reflexão, um estado no qual nos libertamos das amarras metafísicas e nos tornamos por completo nos mesmo. A partir disso encontramos quem somos, e talvez um propósito, como amar. Nietzsche afirma que somos camelos, carregando em nossas costas o peso das tradições, de medo de outro mundo supostamente infernal. Devemos nos tornar leões, nos revoltar contra todo esse nada por trás da sociedade, e futuramente nos tornarmos crianças. Em seu livro “Para além do bem e do mal” cita: “A maturidade do homem: isto significa ter reencontrado a seriedade que se tinha ao brincar quando era criança”. Devemos ser crianças, livres, com novos olhos, novas ideias e novos valores, e sempre questionando o porquê?
Não é de interesse das camadas que estão no poder, seja religioso ou político que essa ideia de iluminação, renovação ou esclarecimento seja passada a nós. Também considero que a ideia de que todos os homens irão um dia atingir o esclarecimento é utópica, está na natureza do ser humano a preguiça e a covardia, buscamos sempre uma zona de conforto, uma base na qual não precisemos pensar muito. Por isso vos digo, rebele-se, para mim não há algo mais temível do que uma vida estática. Não se curve a outros humanos tão dormentes quanto você, liberte-se de si próprio, de suas autoimposições e reconstrua-se constantemente, a mudança é necessária.